Um velho que cai: sinal vermelho
- alexandre6504
- 14 de mai.
- 2 min de leitura
A queda entre os idosos talvez represente, na medicina, um dos mais flagrantes paradoxos entre a sua alta incidência e sua baixíssima notificação. Vale dizer que um terço dos velhos vivendo em comunidade cai a cada ano, enquanto a notícia deste evento (seja por esquecimento de quem caiu ou por absoluta omissão de quem pergunta) somente acontece quando a queda gera complicações que exigem hospitalização ou o óbito.
E por que é tão importante sabermos se a vovó caiu no último ano, já que ela está tão bem, anda para todos os lados, faz suas compras e até dança no coreto da praça? Bem, uma criança pequena cai diversas vezes durante seu período de desenvolvimento motor e adultos podem cair durante atividades esportivas ou desafiadoras. Todavia, se uma pessoa idosa cai facilmente, alguma perda funcional está ocorrendo e de forma silenciosa. Ainda que a maioria das quedas não resulte em lesões graves, 10 a 15% delas demandam assistência médica, sendo as fraturas dois terços destas lesões. E das fraturas que ocorrem nessa situação, a de quadril é a mais comum (25% delas) e a que tem consequências mais devastadoras: uma em cada quatro vítimas morre nos primeiros seis meses e 60% conviverão para sempre com incapacidades para as atividades habituais. Além das fraturas, as quedas provocam ainda os traumatismos cranianos, lacerações graves, hematomas extensos, entorses, etc.
Voltando à nossa vovó, coitada, ela não vai mais poder sair à rua, fazer o supermercado? Vai, sim. O que nos interessa aqui é valorizar a queda como um evento-alerta. A queda pode ser entendida como um sinal de alarma para algumas situações de risco ou para problemas já existentes e que nem sempre são perceptíveis à primeira vista. Para facilitar a compreensão, dividimos as causas das quedas em idosos em dois grupos:
1. Quedas por fatores externos ou extrínsecos: geralmente ocorrem no interior da própria residência ou arredores e são causadas por ambientes mal iluminados, camas muito elevadas ou mal posicionadas, objetos pelo chão, tapetes soltos, escadas, pisos irregulares ou escorregadios, entre outros;
2. Quedas por fatores internos ou intrínsecos: são aquelas decorrentes do próprio envelhecimento e que afetam a estabilidade postural. De modo geral, é o que o médico deveria investigar ao examinar o paciente que cai. Normalmente resultam da combinação de algum transtorno pré-existente, até então pouco significativo, a um evento que surge de forma inesperada. Para melhor entender como isso ocorre, imaginemos um velho com déficit visual causado pela catarata exposto subitamente à luminosidade intensa de um farol ou de uma janela. A perda momentânea dos seus parâmetros de localização espacial podem precipitar uma queda. Noutra situação mais grave, poderíamos encontrar um idoso que tem uma insuficiência cardíaca não diagnosticada, desenvolve uma infecção urinária e, por redução do fluxo de sangue cerebral nesta condição, perde a consciência e cai.
Em ambas situações, fica claro que o fundamental é sempre encarar a queda em idosos como evento sinalizador, indicativo de que algo mais sério pode estar acontecendo, além do caráter meramente acidental. A partir daí, uma investigação detalhada se impõe.
Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna

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