AIDS em idosos: você sabia disso?
- alexandre6504
- 14 de mai.
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Desde o surgimento das primeiras notícias sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida – SIDA, ou AIDS em inglês – no início da década dos anos 80, esta doença infecciosa sempre esteve ligada ao conceito de que era uma particularidade dos homens que faziam sexo com outros homens ou dos usuários de drogas intravenosas. A meia verdade logo se revelou quando sua incidência passou a crescer entre heterossexuais de ambos os sexos, entre crianças nascidas de mãe portadoras do vírus HIV e entre enfermos que recebiam repetidas transfusões de sangue. Além da paulatina mudança em preceitos morais, religiosos e sociais que a epidemia forçosamente provocou, a discussão saiu do âmbito acadêmico e alcançou todos os lares, quase aposentando a expressão "grupo de risco" e confirmando a existência de um comportamento de risco a que todos estamos sujeitos.
Constatando essa progressiva transição na epidemiologia da doença, na população mundial e brasileira, hoje o Ministério da Saúde tem enfocado a importância do diagnóstico precoce, quando as chances de controle medicamentoso aumentam e a identificação dos contatos do portador fica mais fácil.
Dois segmentos populacionais têm despertado a preocupação das autoridades sanitárias neste momento: a do grupo etário homossexual entre 15 e 24 anos e a dos homens heterossexuais entre 50 e 70 anos de idade. Em ambos os casos esse comportamento de risco está mais evidente, pois há menor preocupação com a possibilidade do contágio, utilizam-se menos preservativos e há maior promiscuidade nos contatos sexuais. A maior expectativa de vida dos portadores do vírus HIV, proporcionada pelos medicamentos antirretrovirais ao longo das últimas décadas, possivelmente tenha retirado o caráter dramático do adoecimento pela AIDS. O curso da doença, anteriormente fulminante, se alongou e criou a ilusão de proteção definitiva, fazendo com que aqueles indivíduos "baixassem a guarda" e se tornassem hoje motivo de alerta para o Ministério da Saúde.
Em relação ao grupo etário mais velho, adultos com mais de 50 anos de idade, há algumas particularidades interessantes: a atividade sexual cresceu na mesma proporção em que se elevou o uso de estimulantes sexuais, como o Viagra, e os arranjos familiares e sociais se tornaram moralmente mais flexíveis, permitindo aos mais velhos novas experiências afetivas e sexuais. Estatísticas ainda mostram que apenas 1/6 da população com mais de 50 anos usa o preservativo, apenas 1/5 se submete aos testes sorológicos quando assumem comportamento de risco e que as mulheres idosas estão em maior risco de contaminação pelo HIV que as jovens.
Do ponto de vista médico, o diagnóstico de AIDS-SIDA pode ser erroneamente retardado, uma vez que infecções oportunísticas e redução da função imunitária também podem ocorrer em idosos debilitados, não contaminados pelo HIV. As infecções oportunísticas são as mesmas dos indivíduos mais jovens, como pneumonia pelo Pneumocystis, tuberculose, citomegalovirose, herpes zoster e micobactérias atípicas. O que chama atenção é a evolução muito mais rápida e fulminante, chegando a um índice de quase 40% de mortalidade dentro de um mês, a partir do diagnóstico, em idosos aidéticos com mais de 80 anos.
O tratamento atual utiliza os mesmos antivirais empregados em populações mais jovens, porém a resposta é menos satisfatória.
A nosso ver, ainda são tímidos os programas de prevenção e educação em HIV-AIDS voltados para a população idosa, bem como estudos dirigidos ao conhecimento da sua sexualidade, ainda enfocada dentro dos tradicionais modelos não sexualmente ativo ou heterossexual monogâmico que, apesar de majoritários, não refletem a atual realidade.
Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna

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