Omeprazol, Ginkgo biloba... medicamentos não tão inocentes
- alexandre6504
- 14 de mai.
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Em anos recentes temos assistido a implantação de normas mais rígidas na dispensação e venda de determinados grupos de medicamentos, notadamente daqueles que oferecem riscos de dependência e abuso. Assim, a aquisição deles se dá através de receituários especiais, onde consumidores, prescritores e farmácias são identificados.
Os tranquilizantes, por exemplo, farmacologicamente chamados benzodiazepínicos, são líderes mundiais de mercado da indústria farmacêutica e amplamente utilizados pela população, sem indicação muito precisa ou mesmo incorreta. Não é incomum nos depararmos com portadores de depressão, insônia crônica, dores diversas, transtornos de humor ou simplesmente tristeza, usando determinado calmante por anos a fio. A alegação dessas pessoas é que já não vivem mais sem ele ou que tomam um remédio fraco, que não lhes traz nenhum prejuízo. Puro engano: além dos riscos de disfunção cognitiva – dificuldades na apreensão de novas informações, por exemplo - próprios do uso prolongado de sedativos, adiam-se o diagnóstico correto e o alívio definitivo de determinados sintomas, erroneamente atribuídos à ansiedade. O mesmo raciocínio vale para a utilização indiscriminada de antibióticos, até então adquiridos sem avaliação médica prévia, hábito que produziu em todo mundo bactérias muito resistentes e de difícil controle.
Contudo, ficaram de fora da regulamentação, muito bem vinda por sinal, determinados fármacos que ainda têm venda livre e que, infelizmente, produzem efeitos indesejáveis quando utilizados sem critério clínico. Alguns deles são:
Omeprazol – esse potente inibidor da secreção ácida do estômago deve ser utilizado com limite de tempo determinado, nas doenças do esôfago, estômago e duodeno. Seu uso exige que o indivíduo tenha um diagnóstico, normalmente alcançado com a endoscopia digestiva alta, cujo tratamento raramente ultrapassa seis semanas. O uso prolongado, de forma inadequada, pode causar redução da absorção de vitamina B12 e cálcio no intestino, formação de pólipos benignos no estômago e interação com diversos medicamentos de uso diário, aumentando ou reduzindo sua ação. ação. A prática de usar o omeprazol para "proteger" o estômago é desnecessária e, mesmo para os anti-inflamatórios, é importante perguntar ao médico a necessidade da associação.
Anti-inflamatórios – esses fármacos inibem a enzima ciclo-oxigenase, que perpetua a inflamação; entretanto, esta enzima está presente em diversos órgãos onde desempenha funções importantes e que serão prejudicadas durante o uso do anti-inflamatório. Por causa disso, usar este medicamento por tempo prolongado exige vigilância, em virtude de efeitos indesejáveis sobre a mucosa digestiva, o coração, a pressão arterial, brônquios, rins, fígado, pâncreas, medula óssea, pele etc. Lembre-se: até os velhos Melhoral ou Engov que encontramos nos bares têm anti-inflamatório em sua composição!
Anti vertiginosos – alguns dos tradicionais medicamentos usados cronicamente para inibir a sensação de tontura, popularmente chamada "labirintite" (Stugeron, Vertix...), podem causar sintomas idênticos aos da Doença de Parkinson, provocar desânimo e ganho de peso. E não podemos deixar de falar da campeã dos balcões, a ginkgo biloba, vendida até pela TV e usada como panaceia para todos os males, que vão desde a impotência sexual até a prevenção da doença de Alzheimer. Sua única ação, de fato aceita pela comunidade científica, restringe-se à melhoria da microcirculação, especialmente do ouvido interno e dos vasos periféricos. Importante lembrar que apesar de ser um fitoterápico, não está isenta de efeitos colaterais como risco de sangramentos, insônia, reações alérgicas e até crises convulsivas quando tomada em altas doses.
Enfim, uma antiga máxima das escolas de medicina que deve guiar a caneta do médico, primun non nocere (primeiro não prejudicar), nunca funcionará plenamente se a cultura da auto medicação continuar prevalecendo.
Alexandre Avellar Alves
Especialista em Geriatria e Medicina Interna

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