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Brasil: o país do futuro envelheceu

  • alexandre6504
  • 14 de mai.
  • 4 min de leitura

O envelhecimento de uma população habitualmente é acompanhado de uma elevação da ocorrência de doenças crônicas e de um aumento do grau de dependência de seus componentes idosos. Isto acarreta, em diferentes situações, sofrimentos à própria pessoa que envelhece, aos seus cuidadores e familiares, bem como representa indiscutível aumento dos custos sociais que a sociedade indiretamente acaba por custear.



Diante de tais fatos, supõe-se que a manutenção da autonomia e da independência do contingente idoso deveria ser um dos primordiais interesses em qualquer nação minimamente organizada, onde o envelhecimento bem sucedido decorresse naturalmente de estratégias bem planejadas, cuja base estrutural fosse o compromisso do Estado e de organismos não governamentais com a manutenção da saúde de toda a população, em seus diversos níveis de atenção.



A adequada abordagem da questão social da velhice, por ora circunscrita aos profissionais que lidam diretamente com o indivíduo idoso, tornou-se tão emergencial que em bem pouco tempo se transformarão numa grave questão de saúde pública, anulando os parcos efeitos da filantropia religiosa, das iniciativas acadêmicas ou das numerosas e anônimas famílias que abrigam seus próprios velhos.



Curiosamente, este degredo social, a que poderíamos chamar este processo no qual nossos idosos se veem submetidos, é um fenômeno recente com o surgimento das sociedades industriais a partir do final do século XIX. Observamos que apenas nos grupamentos minoritários denominados primitivos os idosos ainda mantêm direitos especiais e continuam respeitados como depositários da sabedoria ou da memória grupal. A morte social precoce, decretada pelos povos industrializados aos seus componentes inativos, mal preparados ou improdutivos, vem clamorosamente incluindo nossos velhos neste sistema de substituição rotativa, impedindo-os de participação social efetiva, onde o descenso e a incapacidade financeira são o triste resultado final.



Em contrapartida, as antigas sociedades de caráter agrícola, cuja manutenção da propriedade e da administração do patrimônio cabiam aos mais velhos, rapidamente perderam seu espaço desde a Revolução Industrial, vindo a agonizar no Terceiro Mundo ao final do século XX, levando em seu bojo, em direção ao esquecimento, o importante papel que o velho possuía na sociedade tradicional.



Visto isso, cabe ressaltar alguns aspectos de grande importância no contexto brasileiro:



a) a partir da década de 40, erupção da industrialização brasileira de base; emerge no Brasil um modelo de sociedade urbano-industrial, quando aproximadamente 70% da população ainda viviam na zona rural e a expectativa de vida ao nascer era apenas de 45 anos;



b) iniciam-se as migrações internas em busca de trabalho assalariado e regulamentado nas cidades do sudeste, determinando o surgimento de uma população idosa rural remanescente e miserável, bem como o de outra população também idosa, porém migrante e em meio urbano hostil. Em ambas situações o vínculo idoso-família rompeu-se por simples distanciamento geográfico ou por ruptura afetiva e sensorial entre familiares, empenhados agora no projeto individual-capitalista de vida ;



c) progressivamente vem ocorrendo aumento da expectativa de vida ao nascer, vinculada á redução da taxa de mortalidade precoce, o que propiciará níveis similares aos dos países desenvolvidos logo no início deste século; abruptamente vem despencando a taxa de fecundidade desde o início dos anos 70 do século XX, que será 50% menor até o ano 2025 é uma das mais aceleradas transições demográficas da história da humanidade;



d) entre 1950 e 2025 a população brasileira com mais de 60 anos crescerá mais de 15 vezes (o dobro da população geral), tendo aumentado 105% apenas nas duas últimas décadas do século XX;



e) em 2025 seremos o país mais velho do continente, com cerca de 15% da população composta por idosos ( a propósito, hoje, 50% da população mundial com mais de 60 anos está distribuída pelo Terceiro Mundo);



f) os benefícios da aposentadoria por idade são insuficientes, destinados a indivíduos cuja vitalidade biológica é declinante e para os quais resta complementar suas rendas com subempregos e biscates, atividades que normalmente não levam em conta a aptidão ou experiência acumuladas ao longo dos anos.



Assim, é imprescindível que se fortaleçam, de imediato, as políticas públicas específicas para a população idosa, sob pena de nos depararmos, num tempo próximo, com uma legião de velhos desamparados, desassistidos e facilmente visíveis, por absoluta falta de preparo social para recebê-los.



Acreditamos que as soluções mais consistentes passem cada vez menos pelas iniciativas de modelo assistencialistas e mais pela educação social para o envelhecimento: escolas em todos os níveis, sindicatos, governos, sociedades de classes, empresas públicas e da iniciativa privada, meios de comunicação - todos têm uma grande contribuição a dar. Sem perder a perspectiva do trabalho individual de conscientização, devemos nos empenhar em desmistificar o papel da família como única responsável pelo suporte de seu membro idoso, priorizando ações institucionais mais amplas e trazendo o próprio indivíduo que envelhece para assumir um papel mais ativo na garantia de seus direitos como cidadão.



A educação para o envelhecimento, contínua, pode transformar a tradicional visão de respeito piedoso ao idoso, que lhe outorga o "merecido descanso", e instaurar o respeito pela via da reciclagem, de recuperação da autonomia e da manutenção da produtividade dos veteranos. Enfim, o país do futuro já não é mais tão jovem.



Alexandre Avellar Alves

Especialista em Geriatria e Medicina Interna



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